CDL Santa Maria

ARTIGO - Volta do vestibular: todos ganham

A quarta-feira de 5  de abril de 2023 tem tudo para marcar a história de nossa cidade. Dia em que foi votado e decidido o retorno do vestibular e do antigo Peies, agora com nome de Processo Seletivo Seriado (PSS) como método de ingresso à Universidade Federal de Santa Maria, pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe).

Como cidadão santa-mariense, egresso da UFSM e empresário, tenho motivos distintos para comemorar. Talvez complementares, não distintos. Mas todos para comemorar. E confesso que até me esforço, mas não compreendo o motivo da polêmica. Tudo na vida tem lado positivo e negativo. Temos visões antagônicas sobre um mesmo tema: para umas pessoas um viés tem mais peso que o outro. A vida é assim desde que o mundo é mundo. 

Mas com o retorno do vestibular, e do PSS, da forma como será, penso que talvez estejamos lidando com uma exceção socioeconômica/política em que só há pontos positivos. 

A UFSM deixou de utilizar o vestibular como método de ingresso de novos alunos em 2014, adotando integralmente o Sisu, através do Exame Nacional do Ensino Médio. Hoje, quase dez anos depois, a abstenção na instituição é de 19%, com crescimento gradual a cada ano. Isso significa que ao dedicar 30% das vagas ao vestibular e Programa Seletivo Seriado, a UFSM estará destinando a eles justamente as vagas não preenchidas, com uma pequena margem de erro que prevê o crescimento da abstenção do Sisu.

Talvez isso explique porque UFRGS e UFPel, duas federais mais próximas de Santa Maria, tanto geograficamente quanto em termos de realidade social, política e econômica, não tenham aderido 100% ao Sisu, mantendo vestibular, seriado, e demais formas de acesso ativas. 

Quanto à diversidade, entendo o argumento de quem defende a integralidade do Sisu por ser mais democrático, abrindo as portas de forma universal a estudantes de todo o Brasil. O vestibular, segundo quem defende sua extinção definitiva, dificulta a vida de quem mora fora do RS. Mas os dados mostram que até 2014, com o vestibular e Peies sendo a única forma de ingresso, o número de estudantes de outros estados era de 10%, sendo 90% de Santa Maria e cidades próximas. Com a entrada do Sisu, o quantitativo permaneceu o mesmo: 10%. Ou seja, o único argumento aceitável contra a volta do vestibular e seriado é derrubado pelos dados. Mas nem precisaria, pois o Sisu seguirá responsável por cerca de 70% das vagas destinadas.

Na economia, há quem pense que os empresários defendem a volta do vestibular por conta da prova. Pelo movimento causado nas vésperas e dias em que os estudantes enchem a cidade para realizá-la. E ainda apontam o dedo: “se um negócio depende de quatro dias de vestibular, então tem que fechar”. Preciso dizer, enfaticamente, que estão enganados.

O vestibular consiste em uma prova própria, realizada pela instituição, com conteúdos que, entende-se, são os mais adequados para quem deseja estudar nela. Assim, as escolas locais e cursos preparatórios precisam adequar seus conteúdos, atraindo mais estudantes para Santa Maria, ainda antes de seu ingresso. Afora isso, o PSS faz com que a UFSM tenha papel importantíssimo junto às escolas públicas de Ensino Médio, identificando, de acordo com o resultado das provas no 1º, 2º e 3º ano, as deficiências de nossos alunos, a exemplo do que ocorria com o Peies. Ou seja, ajuda a qualificar nossas escolas, melhorar o ensino dos nossos jovens e tornar a educação de Santa Maria referência, no mínimo para quem quer ingressar na Universidade. Significa, entre tantos aspectos positivos, na vinda antecipada de jovens para nossa cidade. Jovens que vão alugar ou comprar apartamentos, utilizar o transporte público, comer em nossos restaurantes, comprar em nossos mercados e comércio… movimentar nossa economia com dinheiro vindo de fora. O mesmo conceito do turismo. Com a diferença de que eles não vão passar alguns dias, e sim anos. 

Não comemoramos a volta do vestibular porque teremos mais vagas para os santa-marienses, ou porque teremos mais clientes nos quatro dias de prova. As razões são muito mais nobres e profundas do que isso. E o melhor é que todos ganham: os estudantes ganham com ensino de qualidade; a UFSM ganha com a queda da abstenção; os candidatos de outros estados ganham porque não perdem a possibilidade do Sisu; as escolas públicas ganham com o suporte da UFSM pela volta do seriado; a economia ganha com a injeção de capital de fora para preparação dos candidatos. Santa Maria ganha voltando a ser polo educacional. 

Marcio Rabelo
Presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Santa Maria